segunda-feira, 6 de abril de 2015

No centro do furacão


Este meu novo trabalho envolve estar com crianças e a sua família.
Todo este conceito de paternidade\maternidade é novo para mim. Cada dia uma aventura nova se inicia.
Este trabalho faz-me pensar em mim no presente, pessoa sem filhos, e na futura mãe que poderei vir a ser. Dizem que um filho nos muda a vida, a forma de pensar e ver o mundo. Acredito, afinal uma parte de nós está agora fora do nosso corpo e essa parte que amamos mais que tudo tem de sobreviver e viver. Faremos de tudo para o seu bem estar, para a sua felicidade.
Por outro lado é claro que este novo ser nos fará abdicar de uma série de coisas que existiam na nossa vida. Abdicar faz parte. Abdicamos de muita coisa ao longo da vida. Eu sei estou familiarizada com o termo e o acto de abdicar. Trocar ou deixar algo por um bem maior, por uma felicidade maior, por uma felicidade alheia, por um amor.
Amor. Esse sentimento que é óbvio, puro e imenso em relação a um filho. Sei disto afinal sou filha, sinto na pele esse amor maior. Como filha sei quanto é bom ser amada de forma intensa, imensa com um amor que não vacila, que é eterno, que transpõe barreiras, distâncias, um amor que é capaz de vencer a mais dura das batalhas. Tenho a certeza que os pais abdicam de bom grado de algo pelo bem do seu filho. Isto é ponto clarissimo.
Agora o reverso da medalha: e quando o filho passa 13 horas do dia a chamar pelos pais? E quando não deixa que os pais deêm a devida atenção ao irmão de meses? E quando cada tentativa de pegar no bebé é brindada com uma birra descomunal do irmão grande que só termina quando o bebé é passado a outra pessoa? E quando o irmão faz exigências que determinam quando os pais podem ou não pegar e cuidadar do bebé? Terão os pais de abdicar do tempo com o bebé para atender e satisfazer as vontades do filho maior? Terão os pais de escolher o grande em vez do bebé porque o bebé não sente e o grande sente?
É esta escolha, esta luta que me sufoca. Sei que em muitas famílias a chegada de um novo membro é pacifica. OK, há ou pode haver uma pequena quebra e sentimento de abandono porque parte dos irmãos, mas até que ponto é que esta situação pode comandar, melhor, mandar na vida dos pais e do bebé?
O recado aqui é prevenir. Procurem apoio se a vossa criança não está a aceitar bem a chegada do novo membro. Procurem apoio se a vossa vida e a vida do bebé estiver condicionada por borras e choros constantes. Fazer cedências e abdicar sim, mas até que ponto?

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